A Escuta Fenomenológica e a Produção de Mudança Terapêutica
- Ailton Amelio
- 7 de jun.
- 2 min de leitura
1. O que é ouvir de modo fenomenológico?
Ouvir fenomenologicamente é adotar uma atitude de suspensão dos julgamentos prévios (epoché), oferecendo ao paciente um espaço no qual sua experiência possa emergir como ela é, livre de interpretações, diagnósticos ou tentativas de correção.
O terapeuta fenomenológico orienta-se por um desejo genuíno de compreender o fenômeno vivido pelo paciente:
Ele não julga, não interpreta, não corrige.
Evita interrupções desnecessárias, mas pergunta cuidadosamente quando necessário para manter-se em contato com a experiência relatada.
Assume uma postura de escuta plena e autêntica, renunciando à postura de "especialista" que detém o saber.
Essa escuta se orienta pelo princípio de acolher o fenômeno tal como ele se apresenta na vivência subjetiva (Lebenswelt) do paciente.
2. A atitude fenomenológica do terapeuta
O terapeuta fenomenológico:
Suspende interpretações e julgamentos (prática da epoché).
Prioriza a descrição detalhada da experiência, incentivando o paciente a apresentar o vivido sem a preocupação de justificá-lo ou interpretá-lo.
Mantém o protagonismo com o paciente, intervindo apenas de maneira breve e secundária, quando necessário para a continuidade do relato.
Reflete a experiência, oferecendo reações congruentes — sorrisos, expressões de surpresa ou pesar — que funcionam como espelhos empáticos, sem adicionar novos significados.
Parafraseia e resume periodicamente, não como forma de corrigir, mas para verificar a compreensão e manter a abertura para o fenômeno.
O terapeuta não apressa o relato nem conduz o paciente a um objetivo pré-determinado. Demonstra interesse genuíno, tempo disponível e uma disposição para acompanhar a emergência da experiência.
3. Efeitos dessa escuta sobre o paciente
Diante de uma escuta assim:
O paciente sente-se encorajado a explorar suas vivências de modo mais profundo.
Percebe que não possui uma narrativa pronta — precisa pensar enquanto fala, encontrar palavras, articular significados.
O processo de relato o leva a um reexame de suas experiências, promovendo uma clarificação progressiva do vivido.
Gradualmente, vem à consciência aquilo que antes permanecia implícito: sentimentos, resistências, contradições, percepções distorcidas.
Esse movimento ocorre porque toda consciência é intencional — ela é sempre consciência de algo. O relato fenomenológico permite que o paciente perceba melhor os objetos de sua experiência e os sentidos que atribui a eles.
4. O papel das intervenções fenomenológicas
Quando há pontos de obscuridade ou desconexão no relato, o terapeuta:
Solicita esclarecimentos respeitosos, mantendo a suspensão do juízo:
"Este ponto ficou pouco claro para mim, poderia explorar um pouco mais?"
"Aqui parece haver uma desconexão; você poderia me ajudar a compreender melhor?"
Essas intervenções:
Não corrigem nem contestam.
Funcionam como convite para que o paciente explore aspectos que permaneciam inexplorados, aprofundando sua compreensão intencional.
5. Benefícios terapêuticos da escuta fenomenológica
Essa forma de escuta:
Amplia a percepção da realidade vivida pelo paciente.
Favorece o reconhecimento das distorções perceptivas e dos mecanismos defensivos que sustentam posicionamentos evitativos ou ilusórios.
Estimula a autoconfrontação, promovendo uma maior sinceridade consigo mesmo.
Fortalece posicionamentos autênticos e realistas, facilitando uma mudança espontânea e genuína.
A escuta fenomenológica é, assim, terapêutica em si mesma: não ensina ou corrige, mas abre espaço para que o paciente se veja e se compreenda em profundidade, conduzindo-o a um encontro mais lúcido com sua própria existência.
(Texto editado com a cooperação da IA ChatGPT)
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